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Viagem ao Pôr do Sol


Estava voltando para casa depois de mais um dia normal, de compromissos, de responsabilidades, de conversas, de preocupações e de algumas risadas. Como era fim de tarde, o sol já estava se pondo e em uma das curvas do ônibus no qual eu estava, a luz alaranjada do sol veio de encontro ao meu rosto. E em um dia frio como este, aqueles 60 segundos de sol era uma sensação tão boa, tão boa ao ponto de me trazer lembranças que por anos e sem a intenção, tinha apagado de minha mente. 

Me recordei de quando eu e meu  melhor amigo ficávamos juntos olhando o reflexo do pôr do sol que estava acontecendo atrás de nós. Cantávamos tantas musicas e era como se soubéssemos todas as musicas que já inventaram até então. Dizíamos "Nossa, que musica antiga!!". Imagina o que diríamos hoje... Lembro de quando ficávamos com os olhos abertos naquela luz fraca, e dizíamos uma para o outra o quão nossos olhos estavam claros. Bons momentos.

Apesar de não ser apegado a grandes quantidades de pessoas, senti um aperto no coração. Era como se não soubesse no que me transformei. Me senti como um estranho. Todas aquelas recordações, aqueles detalhes, era como assistir tudo o que vivi. Na verdade, acho que tudo que fiz durante todos esses anos foi assistir minha vida como em um filme de pouca bilheteria, exceto quando abracei meu pai, uma vez, com tanta força e medo que quase o deixei sem ar.

Nos bancos da frente acontecia uma pequena discussão entre pessoas idosas, senhoras, senhores e o motorista, tão descontraído que estava mais para um debate. Então, no meio disso, uma senhora disse as seguintes palavras: "A vida naquele tempo era tão doce, leve, boa e eu não sabia". Então, foi aí que o motorista, de um simples coadjuvante na conversa, passou a ser o principal com uma frase em resposta ao comentário: "Aí que a senhora se engana! Se a senhora lembra de tantas coisas boas de sua vida e guardou consigo, é porque tinha absoluta certeza que valia a pena."

Me restavam mais dez segundos e minha mente não parava de ser bombardeada por acontecimentos simples, mas que sempre estiveram comigo. E, depois de ouvir tal frase daquele motorista, entendi o porque de eu nunca ter as jogado fora, o de porque não ter as guardado na cabeça e, sim, no coração. A primeira nota máxima, a primeira nota vermelha, o primeiro cofre, a primeira gargalhada em um grupo de amigos, a primeira namorada, a última decepção, um machucado feio, a primeira vez em que vi minha mulher, a primeira vez em que escutei um "eu te amo". E revendo tudo isso desvendei o mistério de não lembrar desses detalhes maravilhosos e simples a todo momento; eu não os guardei em minha cabeça, os guardei no coração. Trancado com sete chaves no alto do castelo e um dragão para proteger e ninguém os tirarem de lá. Vou pescar as melhores lembranças no fundo do peito quando a vida estiver pesada ou simplesmente, quando por um minuto fizer uma viagem ao pôr do sol.

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